26 Junho, 2025 0 comment

Aprender a Aprender: o Caminho para o Desenvolvimento do Talento Jovem

Como preparar as empresas e os jovens trabalhadores para um amanhã que não conseguimos prever? Precisamos de começar pelo ensino, e aqui temos um desafio: os sistemas educativos atuais ainda estão moldados para necessidades rígidas do passado — e não pelas exigências adaptativas do futuro. Os professores devem atuar como “agile learners”, capazes de transmitir competências relevantes, desenvolvendo a capacidade de transferir competências para os novos contextos.

 

Aprender a Aprender

Imagem: LinkedIn


Do ensino às empesas

Falamos constantemente em preparar os jovens para o futuro. Mas como podemos fazê-lo se os nossos sistemas de ensino estão presos ao passado? Num mundo moldado por mudanças tecnológicas aceleradas e por IA generativa, estamos a preparar os jovens para competir num sistema de outro século — quando o que eles realmente precisam é aprender a adaptar-se, questionar e criar. Aprender a aprender!

Nos sistemas educativos desatualizados não só falham os estudantes — falham também os professores. É tempo de repensar a formação dos docentes, fundamental como investimento estratégico para as universidades, para as empresas e para o país. Se queremos aprendizes ágeis, precisamos de professores ágeis — e de sistemas que acreditem tanto no crescimento dos alunos como dos seus docentes, permitindo a estes últimos um percurso de aprendizagem personalizado e contacto constante com as mudanças reais que ocorrem nas empresas e no mundo.

Grande parte do ensino continua a ser desenhado para otimizar métricas estandardizadas e exames de acesso à universidade. Estas métricas premiam frequentemente a memorização, o desempenho individual e a precisão técnica — competências cada vez mais automatizadas pela IA. Entretanto, as competências realmente necessárias estão a mudar rapidamente. Segundo o Future of Jobs Report 2025 do Fórum Económico Mundial, 63% dos trabalhadores apresentam um “skills gap”, que levará a que muitos empregos mudem nos próximos cinco anos, com 69 milhões de novas funções criadas e 44% das competências dos trabalhadores a alterarem-se até 2028. A UNESCO e a OCDE alertam: muitas das profissões que os estudantes terão daqui a dez anos ainda não existem.

 

Tabela World Economic Forum

Imagem: Tabela World Economic Forum

 

A revolução da Inteligência Artificial já chegou

Banir a IA nas salas de aula e das empresas é como tentar travar um tsunami com as mãos. Podemos adiar algumas ondas, mas a maré acaba sempre por levar a melhor. Não podemos banir a disrupção: temos de ensinar os jovens a surfar. Isto significa colocar o pensamento crítico, a criatividade e a ética no centro do processo de aprendizagem. Se um jovem estudante ou trabalhador não consegue distinguir uma deepfake de uma notícia real, ou se não reconhece os enviesamentos das ferramentas que utiliza, então não o preparamos para o mundo real. Surfar a onda da IA é aprender a navegar na incerteza com curiosidade e responsabilidade, não com medo.


O autoconhecimento como base duma aprendizagem mais personalizada

Falamos muito em soft skills, mas raramente as avaliamos. E sabemos que cada pessoa tem formas próprias de aprender e pensar. Alguns são solucionadores de problemas, outros comunicadores, sintetizadores ou criadores. Estas capacidades podem ser ensinadas e desenvolvidas — mas começa tudo com o autoconhecimento.

Imagem: World Economic Forum

 

A realidade demográfica da Europa está a mudar: a população está a envelhecer, as taxas de natalidade estão a diminuir e a aprendizagem ao longo da vida está a tornar-se essencial. Isto abre oportunidades para repensar os modelos educativos. Se temos turmas mais pequenas e diversificadas, por que não tornar o ensino mais personalizado? Por que não desenhar percursos educativos com base na personalidade, estilo de aprendizagem e pontos fortes naturais?


O equilíbrio e a resiliência

Manter o equilíbrio, a capacidade de adaptação e a curiosidade num mundo em constante mudança, é fundamental. Precisamos de parar de treinar os jovens apenas para a velocidade e começar a preparar para a adaptabilidade e resiliência, deixar de os empurrar para visões tradicionais de sucesso e passar a acompanhá-los enquanto descobrem quem são e como aprendem. Mais do que uma corrida até ao topo, a vida deverá ser uma jornada de aprendizagem com propósito. Num tempo de disrupção gerada pela Inteligência Artificial, instabilidade geopolítica, transformações económicas, os jovens não precisam apenas de respostas, precisam das ferramentas certas para fazerem as melhores perguntas.

 

Artigo de Sérgio Almeida, em parceria com o Semanário Vida Económica.

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