A Nova Fronteira do Trabalho: Capacitar para a Economia Digital
Com a transformação digital a avançar a um ritmo sem precedentes, impulsionada pela Inteligência Artificial (IA) e pelo “machine learning”, o mercado de trabalho está a sofrer uma verdadeira revolução, colocando novos e complexos desafios a pessoas e organizações.
Estima-se que até 2027, cerca de 23% das profissões, como as conhecemos, poderão mudar, com o surgimento de 69 milhões de novos empregos e a extinção de cerca de 83 milhões. Neste cenário, a adaptação e a preparação dos trabalhadores para estas mudanças são essenciais para garantir que ninguém seja deixado para trás.
Novas competências
Uma das estratégias fundamentais para responder a esta evolução passa pela requalificação e pela atualização contínua das competências (reskilling). A ideia de uma profissão estática para toda a vida está ultrapassada; é necessário adotar um modelo de aprendizagem contínua (lifelong learning). Nos próximos cinco anos, espera-se que quase metade (44%) das habilidades exigidas para diferentes profissões mudem. Programas de capacitação, como o Boot Camp da Randstad, no Japão, destacam-se como exemplos práticos de requalificação de profissionais para as necessidades digitais, permitindo que pessoas com formações tradicionais adquiram competências tecnológicas e ingressem em carreiras com maior procura.
Outra área crucial na transição para a economia digital é melhorar a correspondência entre os perfis dos trabalhadores e as oportunidades oferecidas pelas empresas. O desenvolvimento de modalidades de trabalho flexíveis, como o teletrabalho e o trabalho em modo freelance, abriu novos horizontes, tanto para empregadores como para profissionais. Um exemplo notável é o programa SMK-PK na Indonésia, que aproxima a formação técnica das necessidades do mercado, formando estudantes com competências alinhadas com a procura, o que facilita o seu ingresso no mercado de trabalho e contribui para reduzir o desemprego.
Para além disso, ferramentas como a metodologia DISC, que analisa os perfis comportamentais dos trabalhadores, podem melhorar a correspondência entre as competências individuais e as oportunidades de emprego, permitindo dessa forma o melhor fit entre o talento individual e as necessidades da função.
Sinergias e colaboração
A existência de redes de proteção social para os trabalhadores é também imprescindível para garantir uma transição segura. Muitas vezes, as mudanças de carreira ou de setor não são imediatas, o que pode criar instabilidade. Para evitar que os trabalhadores enfrentem dificuldades financeiras e sociais, é essencial que os governos e as empresas colaborem na criação de mecanismos de proteção, como seguros de desemprego e pacotes de compensação. A Alemanha, por exemplo, adotou uma abordagem ativa para apoiar os trabalhadores deslocados pela transição energética, oferecendo programas de requalificação e apoio para que possam integrar novos setores em crescimento.
A colaboração entre diferentes setores também desempenha um papel chave na criação de uma força de trabalho flexível e apta a responder aos desafios do futuro. Quando governos, empresas e instituições de ensino se unem para desenvolver programas conjuntos de formação, criam-se sinergias que ultrapassam as barreiras entre setores e possibilitam a adaptação dos trabalhadores a novas áreas. A Skills Initiative for Africa, por exemplo, reúne organizações governamentais e privadas para fomentar a capacitação técnica de jovens africanos, criando uma base de profissionais qualificados para a economia digital e contribuindo para o combate ao desemprego.
O sucesso da transição para a economia digital exige a implementação de estratégias que promovam a aprendizagem contínua, o reforço da correspondência entre competências e empregos, a proteção do trabalhador e empresas, e a colaboração entre setores. Estes pilares não só promovem uma integração mais harmoniosa dos trabalhadores como também ajudam as empresas a encontrar talento qualificado para as suas necessidades específicas, garantindo um desenvolvimento sustentável da economia digital.
Ao apostar nestas estratégias, desenvolve-se uma força de trabalho resiliente e preparada para um futuro incerto. O mercado de trabalho está a evoluir rapidamente e, para prosperar, trabalhadores e empresas precisam duma abordagem proativa e adaptativa. Esta nova economia digital será tanto mais inclusiva e próspera, quanto maior for o investimento numa transição justa e eficaz.
Artigo de Sérgio Almeida, em parceria com o semanário Vida Económica.