14 Junho, 2018 0 comment

Artigo “Cérebro social: o ser humano cooperativo”

Cérebro social: o ser humano cooperativo

Sérgio Almeida | CEO SEAL GROUP

Revista Human-Espaço RH | Edição de Maio, 2018

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O nosso cérebro está adaptado para o apoio mútuo, a confiança e a cooperação. Apesar de esconderem um potencial enorme, essas características neuronais nem sempre são utilizadas e potenciadas de forma consciente.

O ser humano e a coesão social

A solidão faz-nos mal e a comunhão com os outros traz-nos alegria. Assim poderíamos resumir os principais sistemas de circuitos neuronais. Esses sistemas estão imunes às influências culturais, o que nos leva a concluir que o Homem é por natureza um ser social. O número de estruturas cerebrais que participam no processamento das informações sociais, bem como a complexidade da conexão dessas áreas, é surpreendente. Temos a capacidade de nos colocar no lugar do outro e entender os seus sentimentos e as suas intenções e sabemos também interpretar as perceções de situações complexas e que estão por detrás de um certo contexto social específico.

O impacto social na diminuição da dor

Assim como a solidão pode fazer adoecer, viver em comunidade pode trazer a cura. Vários estudos compro- vam o poder curativo dos benefícios sociais, estando provado que a compaixão reduz a dor, e até mesmo expressões mais simples de bondade o podem fazer. São exemplo disso mesmo os toques deliberados no doente denominados ‘therapeutic touch’ (o toque terapêutico) e utilizados por muitos médicos; até quando se trata de administrar uma injeção eles reduzem a sensação de dor, baixam o nível de cortisol e ativam o sistema imunitário.

Outro exemplo do impacto da coesão social no cérebro e na diminuição da dor são os rituais muito comuns nas regiões africanas no tratamento das doenças, traduzido pelo o facto de a aldeia inteira se reunir à volta do doente e assistir à sua cura. No ocidente, é muito comum o simples ritual de soprar para a ferida no joelho de uma criança.

“O número de estruturas cerebrais que participam no processamento das informações sociais, bem como a complexidade da conexão dessas áreas, é surpreendente.”

Somos especialistas em rostos

Estar em sociedade é também ter a capacidade de reconhecer e memoriar rostos. No córtex temporal inferior existe uma área especificamente estruturada e funcional para o reconhecimento facial. Nesse sentido, recorda- mos com mais facilidade rostos com os quais temos algum tipo de ligação pessoal do que aqueles com quais não temos ligação alguma. Para além disso, os rostos conhecidos parecem-nos mais amigáveis do que os desconhecidos, e o rosto que encontramos com frequência na nossa vida quotidiana é considerado mais atrativo do que aquele que raramente se cruza no nosso ambiente social.

O reconhecimento facial é uma parte substancial da comunicação interpessoal. Ao reconhecermos um rosto, podemos aprofundar a relação com essa pessoa; e esse relacionamento pessoal, por sua vez, faz-nos perceber essa pessoa como mais simpática. O sistema neuronal que está ativo no processamento de rostos tem como objetivo servir a comunidade, que desta forma contribui para a estabilização e a pacificação do coletivo.

Conclusão

Nos últimos anos foram publicados vários resultados de pesquisas neurocientíficas que provam que o ser humano é efetivamente um ser social, cooperativo e na sua essência pronto para ajudar o outro. Numa sociedade tão dinâmica e por vezes individualista, fica a certeza de que nascemos e vivemos com um propósito coletivo e com a missão de contribuir para um mundo melhor.